Não sei o que dizer dos adultos - de nós todos que apregoamos princípios e coisas quejandas!
Um dos meus netos pediu-me uma folha de papel para escrever - com a sua idade, pus-me a adivinhar: "- O que terá para nos dizer?" - mas como a vida já poucas reservas me deixa, dei-lha.
... e ele escreveu o conto que segue, com todas as letras, e depois sentou-se em frente do computador (deste!) e transcreveu o seu manuscrito.
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"A menina muito triste
Era uma vez uma menina que foi à escola pela primeira vez.
A menina disse:
- O professor tem uma voz
esquisita; eu não gosto!
O professor disse:
- Este é o Miguel; ali ao
fundo é a Marisa; ao lado da Marisa está o Santiago. Na mesa à frente da do
Santiago está o Manuel. Ao lado do Manuel está a Maria. Na mesa à frente da Maria está
o Pedro. Ao lado do Pedro está o Francisco. Na mesa à sua frente está o Luís.
Ao lado do Luís está a Luísa. Na fila ao lado está a Francisca. Ao lado da
Francisca está a Mariana; e na mesa em frente está a Catarina. Ao lado da
Catarina está o António. Na mesa em frente está Lídia e na mesa ao lado está a
Íris.
A menina não era
Portuguesa.
A menina disse:
- Quem são vocês? Nem o
professor sabe dizer o meu nome!...No recreio ninguém brinca comigo.
Fim"
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O tema foi espontâneo... coisas que o inquietam e que lhe bailam na mente...e nós a vermos a "selva", a "caça ao homem"...e não enxergamos as preocupações de uma criança com pouco mais de sete anos, na sua turma, na sua aula, na sua escolinha de província! O título é dele e por ele começou ... e a palavra "Fim" é de sua autoria sem a qual não deu por terminado o seu texto!
Nós, "adultos", vamos pôr "fim" onde? Quando já não houver, sequer, uma menina muito triste?
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Quando conseguir escrever este texto com a minha assinatura...talvez perceba quanto andei na vida para dela nada saber!
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